Carlos, 100 anos
Casas
entre bananeiras
mulheres
entre laranjeiras
pomar amor
cantar.
um homem
vai devagar.
Um
cachorro vai devagar.
Um burro
vai devagar.
Devagar...
as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus.
Estamos
comemorando o centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade. Como
homem e poeta sabia e encarava o vazio e solidão. Da vida fazia a poesia. Nós
fugimos e nos empanturramos de biscoitos, filmes, informações e tédio. Não
existe para nós o devagar. No poema “Passagem do ano”, para o poeta existia:
o recurso de se embriagar.
o recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.
Para nós existe o colocar em cima de nós tantas coisas a fazer que
perdemos o contato com o nosso desejo. O que realmente desejo fazer? Ler um
livro? Fazer uma geleia? Espreguiçar-me? Achei interessante um comentário no jornal O
Globo sobre uma banheira que só falta falar, mas que servirá apenas como
elemento decorativo, pois não temos mais tempo de esperar que ela se encha de
água.
Perdemos o contato com a nossa natureza e vivemos estressados
simplesmente porque não aceitamos a nossa condição de homens. Gostaríamos de
ser deuses... Comemorando com Drummond seu aniversário envio um recado para
ele:
Casas entre tiroteios
Mulheres entre
recheios
trabalho, dor ,
contar
Um homem corre.
Um cachorro corre.
Um burro corre.
Correndo ninguém se
olha.
Êta vida besta, meu
Deus.
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Vera Maria Jacques
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