terça-feira, 1 de novembro de 2011

Carlos, 100 anos



                                                      Casas entre bananeiras

                                                      mulheres entre laranjeiras

                                                      pomar  amor  cantar.


                                                      um homem vai devagar.

                                                     Um cachorro vai devagar.

                                                      Um burro vai devagar.

                                                     Devagar... as janelas olham.

                                                              Êta  vida besta, meu Deus.

Estamos comemorando o centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade. Como homem e poeta sabia e encarava o vazio e solidão. Da vida fazia a poesia. Nós fugimos e nos empanturramos de biscoitos, filmes, informações e tédio. Não existe para nós o devagar. No poema “Passagem do ano”, para o poeta existia:

o recurso de se embriagar.

o recurso da dança e do grito,

o recurso da bola colorida,

o recurso de Kant e da poesia,

todos eles... e nenhum resolve.


Para nós existe o colocar em cima de nós tantas coisas a fazer que perdemos o contato com o nosso desejo. O que realmente desejo fazer? Ler um livro? Fazer uma geleia? Espreguiçar-me? Achei interessante um comentário  no jornal O Globo sobre uma banheira que só falta falar, mas que servirá apenas como elemento decorativo, pois não temos mais tempo de esperar que ela se encha de água.


Perdemos o contato com a nossa natureza e vivemos estressados simplesmente porque não aceitamos a nossa condição de homens. Gostaríamos de ser deuses... Comemorando com Drummond seu aniversário envio um recado para ele:

Casas entre tiroteios

Mulheres entre recheios

trabalho,  dor ,  contar

Um homem corre.

Um cachorro corre.

Um burro corre.

Correndo ninguém se olha.

Êta vida besta, meu Deus.

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Vera Maria Jacques